É impossível fazer uma reportagem da nossa vida e vivê-la ao
mesmo tempo.
Tirei uns dias na última semana do ano para relaxar. Fiquei
longe das redes sociais a maior parte do tempo.
De qualquer forma, tirei estes dias para estar presente na
minha vida, livre de qualquer pressão para escrever.
Queria apenas viver o momento e guardar boas recordações na
minha memória.
Esta fotografia é uma das poucas que tirei.
Adoro esta praia e gostei deste sinal de boas-vindas. Quando
o vi ali, parecia estar a dar as boas-vindas ao novo ano. A uma nova
perspetiva. Ou a algo novo e cheio de esperança.
Um dia, estava a visitar o Castelo de Praga, e alguém do
grupo estava sempre a parar para tirar fotografias. Esta situação obrigava o
guia a interromper constantemente as explicações. A pessoa estava a viajar
sozinha e todos nós sentimos que fazer aquela reportagem era importante para
ela
Começámos então um debate sobre esta espécie de obsessão por
tirar fotografias.
O guia referiu um texto de Umberto Eco sobre o assunto.
O artigo de Eco fala da "síndrome do olho
eletrónico". Define-a como o desejo de estar presente com um olho mecânico
em vez de um cérebro.
O ensaio reflete sobre a compulsão de fotografar e filmar
tudo e como isso nos afasta de viver efetivamente
o momento.
Eco pensa que as pessoas estão demasiado concentradas em guardar
memórias nos seus telemóveis e estão a perder a capacidade de as apreciar e
guardar nas suas mentes.
Por vezes, é essencial manter um registo do momento.
Normalmente, é mais importante viver.
Feliz 2024.
P.S. Chronicles of a liquid society by Umberto Eco